sábado, 31 de outubro de 2009

Valorização das águas cinzentas na Agricultura

As águas cinzentas são a fracção das águas residuais domésticas, constituídas fundamentalmente pelas águas usadas nas lavagens, que geralmente não contém concentrações significantes de excreta. Pode-se dizer que é toda a água residual excepto os 40% que constituem as águas usadas no toilette, tendo como fonte principal as cozinhas.
Na EU, a produção diária estimada de águas cinzentas é de 66 a 274 litros por habitante. Para os países sub-desenvolvidos, esse valor chega a ser inferior a 14 litros.
Nos países de clima árido a semi-árido, o uso das águas cinzentas tem sido de grande importância na produção agrícola.
Com a grande pressão populacional aumentando a demanda pelos recursos hídricos e levanto a um linear aumento na produção de água residual, a reciclagem das águas cinzentas desempenha um papel
cada vez mais importante na redução da demanda pelo recurso água doce, abastecendo o sector de maior consumo de água, a agricultura, além de aliviar as ETARs reduzindo o seu efluente a tratar.
A reciclagem de águas cinzentas para fins agrícolas utiliza o recurso no local e recupera os
nutrientes desperdiçados. Segundo Bethume e Roberts (2002) a fertilidade da terra também é mantida.
Mais de 10% da população do mundo consome alimentos produzidos por irrigação com
águas residuais. O percentual será consideravelmente mais elevado entre as populações de baixa renda (M. Halalsheh et al, 2008).

A qualidade das águas cinzentas produzidas, está intimamente ligado à quantidade de água potável consumida. Sendo assim, nas regiões onde o consumo percápta de água é baixo, correspondente às regiões de clima árido ou semi-árido, essas águas contêm maior concentração de substâncias características das águas cinzentas. Essa concentração também varia de acordo com a fonte de produção dessa água. Literaturas estabelecem a sua constituição percentual média em azoto, fósforo e CBO em 50%, 10% e 40% respectivamente, comparado com a outra porção das águas residuais constituída pelas águas negras.

Estas características conferem-lhe facilidades de uso e de tratamento, em relação às águas negras o que faz com que seja amplamente defendida a sua separação, que requer instalações diferenciadas.

Os valores dos parâmetros relativos a substancias encontradas nas águas cinzentas mostram que existem riscos associados a seu uso na agricultura, e as tendências desses valores podem variar localmente.
A formulação das políticas convida para uma boa análise das tendências relevantes no contexto local e das opções para soluções de gestão de risco. Esta informação deve ser a base para desenvolver critérios de decisão e os procedimentos em torno da utilização das águas cinzentas na agricultura.

Os riscos tanto para a saúde humana como para o ambiente, inerentes ao uso dessas águas na agricultura, advêm da presença de agentes patogénicos relacionados com as excretas, algumas doenças transmitidas por vectores presentes na comunidade, e determinados produtos químicos sensíveis de afectar o bem-estar humano. Como forma de atribuir um mecanismo de gestão desse risco, a OMS publicou recentemente o WHO GUIDELINES FOR THE SAFE USE OF WASTEWATER,EXCRETA AND GREYWATER.

O tratamento pode reduzir significativamente as concentrações de alguns contaminantes (por exemplo, excretas, patógenos e alguns produtos químicos) e, portanto, o risco de transmissão de doenças.
A técnica de tratamento terá de ir ao encontro das condição sócio-económicas da região de uso dessas águas, que tem sido maioritariamente os países em desenvolvimento. Uma vez que o incentivo à recuperação dessas águas está sendo feito a nível familiar, as soluções de tratamento terão de se adequar a esse meio.
Uma das soluções mais simples, mais baratas e mais difundida é o depósito séptico seguido de filtro intermitente de areia, capaz de remover 90% do CBO da água, e outros contaminantes através de processos físicos e biológicos.


Outra opções de tratamento de baixo custo é o Sistema Wetland em que águas cinzentas passam lentamente através do sistema radicular , do cascalho, e rizomas do vegetação plantada. A remoção de contaminantes ocorre por processos físicos, químicos e biológicos.


A experiência de Cabo Verde – País insolar

O regime de precipitação de país é definido por uma estação das chuvas de 3 meses com uma precipitação média anual rondando os 250mm, e a estação seca a maior parte do ano. O gradiente de temperatura anual é baixo, e a média ronda os 25°C.
O país vive uma constante escassez de recursos hídricos, e mais de 50% da população é abastecida com água desalinizada, com um consumo médio percápta de 14 a 45 litros por dia.A agricultura é familiar (de subsistência), predominando as culturas do milho e do feijão que ocorre na estação das chuvas.
A frequência da agricultura de regadio é maior nas regiões onde há disponibilidade de água subterrânea e é mais intensa no período das chuvas.
O sector não é suficientemente capaz a assegurar a alimentação no país, que apresenta níveis de subnutrição significativos.

Num dos municípios rurais da ilha de Santiago, uma das de maior vocação agrícola, decorre um projecto de separação e aproveitamento das águas cinzentas, iniciado em 2009, e tem contado com a adesão de um número significativo de famílias, empenhadas na criação de um horto familiar perspectivando a melhoria da qualidade da alimentação, investindo principalmente em culturas hortícolas.
Além das ligações de separação da água, o sistema submete a água cinzenta a um tratamento físico reduzindo o seu risco para a saúde, antes de usa-la para rega num sistema de micro-irrigação. O resultado dessa experiência precoce tem incentivado famílias de outras comunidades a estabelecer instalações de separação das águas residuais, aproveitando do mesmo modo as águas cinzentas.

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